Por Kael Moro, advogado sócio do escritório Vanzin & Penteado Advogados, especialista em Direito Empresarial e M&A.
Empresas que sobrevivem ao tempo não são apenas aquelas que prosperam em cenários favoráveis, mas as que se estruturam para atravessar crises, sucessões e transformações de mercado. A governança corporativa assume, nesse contexto, um papel central: ela não é mera formalidade regulatória, mas um instrumento estratégico de perenidade, capaz de preservar o negócio e perpetuar o legado de seus fundadores.
Segundo o reporte anual do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), em 2024 houve expansão expressiva na disseminação de práticas de governança, com programas de capacitação, certificações, grupos de estudo e a universalização de conteúdos digitais para empresas listadas, familiares, startups e organizações da sociedade civil. Esse movimento reforça que a governança deixou de ser tema restrito a grandes companhias e se consolidou como requisito essencial em qualquer porte ou setor.
1. Estrutura de sustentação: além da formalidade
A governança deve ser compreendida como a arquitetura organizacional que sustenta a longevidade do negócio. Isso implica adotar mecanismos claros de tomada de decisão, controle interno, prestação de contas e definição de responsabilidades.
Ao internalizar práticas de transparência, responsabilidade, equidade e accountability, empresas constroem bases sólidas não apenas para atender investidores, mas para assegurar a sobrevivência em cenários de incerteza.
2. Separação entre capital e gestão executiva
Muitos negócios sofrem com a sobreposição entre papéis de sócio e de gestor. Esse acúmulo pode gerar conflitos de interesse e comprometer o patrimônio. A governança eficiente promove a clara separação de esferas: sócios cuidam da estratégia e do futuro, enquanto executivos gerenciam o cotidiano da operação, sujeitos a mecanismos de controle e supervisão.
Essa divisão fortalece a gestão, preserva o patrimônio e reduz riscos pessoais de sócios e herdeiros.
3. Conselhos como instâncias de decisão estratégica
À medida que a empresa amadurece, torna-se prudente evoluir de modelos simples de governança para mecanismos institucionais. A diferença entre Conselho Consultivo e Conselho de Administração está, principalmente, na formalidade, funções decisórias e independência:
A opção entre ambos — ou uma evolução progressiva — deve considerar estágio da empresa, grau de complexidade e perfil societário.
Caso queira explorar esse ponto em maior profundidade, recomendamos a leitura de nosso artigo já publicado no blog: A escolha das estruturas de Conselho Consultivo e Conselho de Administração em sociedades por ações recém-constituídas ou transformadas pós-investimento
4. Cultura organizacional e liderança pelo exemplo
Governança não se restringe a documentos e estruturas: ela depende de cultura. Uma empresa que não internaliza valores como transparência, integridade e diálogo não sustentará governança efetiva.
Por isso, líderes precisam assumir protagonismo e dar o exemplo. O comprometimento da alta direção em incorporar práticas governamentais favorece a disseminação desses valores aos níveis operacionais, criando congruência entre discurso e ação.
5. Gestão de riscos e compliance integrado
Uma governança moderna vincula-se diretamente à identificação e mitigação de riscos — regulatórios, jurídicos, operacionais, de mercado, reputacionais. A governança não é neutra: ela exige um sistema de compliance que monitore as atividades da empresa, imponha controles internos, promova auditorias independentes e sinalize desvios.
Essa estratégia protege não apenas recursos financeiros, mas também reputação, credibilidade e a continuidade institucional.
6. Planejamento sucessório: proteger o negócio e o legado
Um dos maiores riscos à perenidade empresarial é a ausência de um plano sucessório. Empresas familiares ou com sócios fundadores ativos precisam estruturar regras claras para entrada e saída de herdeiros, mecanismos de liquidez e critérios de governança para novos sócios.
O planejamento sucessório não é apenas jurídico, mas também estratégico: garante continuidade sem rupturas, fortalece a confiança entre stakeholders e protege o legado construído.
7. Medição de performance e accountability
Governança não se resume à criação de órgãos ou documentos. É preciso medir a sua efetividade por meio de indicadores de desempenho, auditorias independentes e comitês especializados (como de riscos, compliance ou sustentabilidade).
Esses mecanismos conferem transparência, permitem correções de rota e tornam a governança uma prática viva e ajustável ao longo do tempo.
Conclusão
A governança corporativa é a ferramenta mais eficaz para transformar empresas em organizações duradouras, capazes de atravessar gerações e contextos de mercado. Sua adoção vai muito além de atender exigências regulatórias: representa o compromisso com a sustentabilidade do negócio e com o legado dos fundadores.
As estratégias aqui apresentadas — separação de papéis, conselhos atuantes, cultura de integridade, gestão de riscos, planejamento sucessório e métricas de accountability — devem ser adaptadas às particularidades de cada organização.
É importante destacar que a implementação de instrumentos de governança deve considerar as especificidades de cada empresa e os interesses de seus sócios. Por isso, a atuação de especialistas é essencial para orientar de forma técnica e estratégica, assegurando que a governança seja de fato um fator de perenidade.
Fonte de dados estatísticos
As informações estatísticas e de contexto deste artigo têm como base o Relatório Anual 2024 do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), principal referência no Brasil em boas práticas de governança corporativa.
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